Ótima entrevista com o Consultor
em Carreiras e Coordenador do curso de Pós-graduação em Gestão da UNI-RN,
Flávio Emílio Monteiro. O educador corporativo faz uma análise sobre cenário econômico
e aponta caminhos para o jovem que pretende iniciar uma carreira profissional.
Aproveite!
O jovem precisa se mostrar disposto
a aprender, ter atitude.
Baixa escolaridade ou
deficiências na formação profissional, falta de experiência e dificuldades em
entender as exigências corporativas são alguns dos fatores que dificultam a
inserção dos jovens no mercado. No
início da carreira produtiva – entre os 18 e 24 anos –, a maior parte dos
jovens ainda tenta compreender quais decisões tomar sobre uma carreira. Em
período de recessão e corte de vagas, a situação parece ainda mais complicada
para o profissional que deseja iniciar no mercado de trabalho.
Para Flávio Emílio Monteiro, o
mercado está, de fato, mais exigente para o jovem. Entretanto, acima da
formação profissional e da experiência, as
empresas buscam comprometimento e atitude. “O mercado procura algo além do conhecimento técnico mas gente que aja
diferente, se comporte diferente e tenha atitudes que possam agregar para a
empresa”, ressalta Monteiro.
♦ Há uma idade ideal para iniciar a idade profissional?
É uma decisão pessoal e da
própria condição financeira. A alternativa de o jovem entrar antes mesmo de
terminar o ensino médio é medida pela circunstância. Ele precisa colaborar com
o orçamento doméstico: não há incompatibilidade entre estudar e organizar o
tempo para trilhar a profissão.
♦ O que o jovem que deseja entrar no mercado de trabalho deve ter em
mente?
Não há faixa etária ideal: ela
se inicia, em termos legais, a partir de 14 anos. Os programas de incentivo à
inserção, como o pequeno aprendiz, não deixaram de existir por causa do momento
difícil do mercado. O que diferencia mesmo é atitude. O jovem precisa se mostrar disposto a aprender, ter atitude. E
mesmo em períodos de crise, empresa nenhuma quer perder um talento que possa
ser desenvolvida.
♦ Quais parâmetros medem esta “atitude”?
Um conjunto de comportamentos
que ele vai apresentar. Alguém que seja adaptável,
demonstre iniciativa, tenha organização, todas as coisas que são universais
no mercado, independente se é um período próspero ou difícil.
♦ Como o mercado está em recessão, as seleções vão se tornar mais
seletivas?
Sim, as empresas já são seletivas, e em períodos de recessão como que
estamos passando elas tendem a ser ainda mais seletivas. Como a quantidade
de vagas é muito pequena e de pessoal é grande, o rigor é maior.
♦ A qualificação que o mercado fala é apenas técnica ou também foca no
comportamento e ética no trabalho?
Essa complementação acaba
sendo aquele diferencial de atitudes que pode
garantir que o jovem ganhe a vaga. O mercado procura além do conhecimento
técnico, do preparo ou um diploma de curso específico, mas gente que haja diferente, se comporte diferente e
tenha atitudes que possam agregar para a empresa. Por isso as dinâmicas,
entrevistas, que vão focar mais o lado comportamental.
♦ Quais conhecimentos “básicos” o jovem precisa ter?
Em princípio idiomas, principalmente o nosso. Por
mais óbvio que possa parecer, há quem escreve mal, não se comunica direito e
isso no mundo corporativo é imperdoável. Acrescentar um segundo idioma é
desejável, mas eu não considero que quem não sabe falar inglês vá perder muitas
oportunidades. Se tiver, aumenta as chances. Dominar o português é fundamental.
Também é preciso uma capacidade analítica, que vem da matemática, por exemplo.
Além disso, é preciso usar as ferramentas, não só como usuário: é preciso saber
usar um word, excel, algum tipo de banco de dados.
♦ O que um jovem que não tem experiência profissional pode colocar no
currículo?
Entre os recrutadores há uma
máxima bem curiosa: todo mundo que declara avançado no currículo, na verdade é
médio; quem fala médio, é elementar; e quem fala elementar, não sabe de nada.
As pessoas tendem a se supervalorizar no currículo. Mas currículo pede,
primeiro, os dados básicos: nome, idade, contato telefônico. Documentos
pessoais só entram na fase de contratação. Além disso, é preciso colocar a
última formação escolar ou acadêmica. No último tópico, a experiência, ou
perfil profissional. O jovem que não tem experiência não vai inventar. O que a gente recomenda é: fez alguma
atividade voluntária, participou de alguma atividade, viajou para fora do país,
ganhou um concurso de poesia? Coloque no currículo. Pode não ter nada
relacionado com a vaga pela qual você concorre, mas mostra um traço do seu
perfil: uma pessoa desprendida, com iniciativa, que sabe trabalhar em equipe. O
significado da palavra “curriculum” é curso de vida, então pegue o que há de
melhor, o que for de verdade, e coloque. Os recrutadores têm vários artifícios
para descobrir mentiras, eles vão olhar rede social...
♦ Por falar em internet, ela deve ser inserida no currículo?
Não agrega. Colocando ou não
alguém vai rastrear, mas caso o candidato avance, não na primeira fase.
♦ Os jovens costumam ter muita presença em redes sociais. Para quem está
começando ou já está no mercado de trabalho, é preciso ter filtro?
Não há como negar que o mundo corporativo é conservador, esta
é uma característica de grande parte das empresas. Temos liberdade no nosso
país, mas nem todo mundo consegue utilizar a rede social de forma responsável.
Então, é preciso pelo menos ter o
cuidado de colocar filtros corretos para que fotos, conteúdos e opiniões fiquem
restritos à amizade e intimidade do candidato. Quando você deixa muito
aberto, isso pode causar um mau julgamento sobre a pessoa. Não chega a ser uma
questão de segregações, mas você faz projeções pelo estilo de vida que a pessoa
demonstra ter. E as empresas não estão selecionando para arriscar, mas para
acertar, até porque isto custa tempo e dinheiro. Aparecendo um traço
comportamental fora do que a empresa quer, está fora.
♦ Já que se falou em conservadorismo, como é vista hoje a tatuagem, o
piercing...?
Cada vez mais (o mercado) vem
aceitando. Conservador, hoje, é mais relacionado ao comportamento, não
aparência, até porque o próprio Ministério Público do Trabalho se posiciona
fortemente contra qualquer tipo de discriminação. Tatuagem, piercing, cor de
cabelo, alargador dependem muito da característica da empresa. Na área de
criação de uma empresa de propaganda você pode encontrar tudo isso que citou, o
mesmo em um call center. E tatuagem, o que a gente recomenda? Ter cuidado com o
local. Tem que ser um local em que você administra a coisa: mostra quando deve
e esconde quando não deve. Tamanho, extensão do desenho também devem ser
observados, bem como o tipo de desenho.
♦ Durante a seleção, há alguma dica para o jovem minimizar o nervosismo?
Entrevista, no final das
contas, é treino. Você começa a ficar mais solto ao longo de várias. Uma sugestão é que o jovem exercite o
diálogo: alguns têm o hábito de se isolar. Com o smartphone, alguns dialogam
pouco com a família, com os amigos, na escola. Então, esta pessoa frente a
frente com um selecionador vai ficar nervosa. E não tente também bancar o
ator nesta hora. Há alguns sites que dão a recomendação do que dizer, citar que
“ser perfeccionista é o meu defeito”. Isso não vale. Gostar das coisas certas
não é um defeito. Script não funciona. Os recrutadores estão cada vez mais
criativos nas perguntas.
♦ Com a lei nacional de aprendizado, o jovem está cada vez mais cedo
disponível no mercado. A empresa precisa ter uma atenção especial com ele?
Quando alguém é admitido como
jovem aprendiz, estagiário ou trainee, a empresa raciocina que a pessoa está em
processo de desenvolvimento. Então, nada mais normal que ela faça perguntas, e
a empresa já está aberta a dar este apoio. É importante que ele (o estudante)
não se retraia nesta hora. Se eu faço perguntas é porque eu tenho interesse,
iniciativa, e isso é extremamente bem visto.
♦ Qual o benefício para a empresa em buscar o jovem profissional?
Primeiro é que ela atende a
uma determinação legal, que estabelece que a empresa tenha um percentual de
jovens aprendizes. Segundo, ela consegue jovens talentos que podem ser moldados
pela cultura e característica da empresa. E, do ponto de vista financeiro, trazer
um jovem aprendiz ou estagiário tem custo bem mais baixo.
♦ Não há o risco de a empresa substituir, em tempos de recessão
econômica, o profissional pelo estagiário?
Cada vez mais as empresas têm
procurado se adequar à lei do estágio e do aprendiz, mas claro que distorções
você vai encontrar ainda. O que acontece é que tanto o jovem aprendiz quanto o
estagiário tem carga horária diferenciada, e não se coloca para eles cargos de
tomada de decisão e risco. É mais uma função de aprendizado, apoio, auxílio do
que propriamente quem vai responsabilizar por uma tarefa. Mas cabe também ao
jovem perceber, informar que está sendo submetido a jornadas exaustivas ou
pressão psicológica, até porque todos os contratos são regidos por instrumentos
legais. É importante ele ler e saber se o que executa na empresa está de acordo
com o que executa no trabalho.
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Por: Nadjara Martins
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