segunda-feira, 22 de agosto de 2016

A postura do jovem para o primeiro emprego

Ótima entrevista com o Consultor em Carreiras e Coordenador do curso de Pós-graduação em Gestão da UNI-RN, Flávio Emílio Monteiro. O educador corporativo faz uma análise sobre cenário econômico e aponta caminhos para o jovem que pretende iniciar uma carreira profissional.
Aproveite!


 O jovem precisa se mostrar disposto a aprender, ter atitude.


Baixa escolaridade ou deficiências na formação profissional, falta de experiência e dificuldades em entender as exigências corporativas são alguns dos fatores que dificultam a inserção dos jovens no mercado. No início da carreira produtiva – entre os 18 e 24 anos –, a maior parte dos jovens ainda tenta compreender quais decisões tomar sobre uma carreira. Em período de recessão e corte de vagas, a situação parece ainda mais complicada para o profissional que deseja iniciar no mercado de trabalho.

Para Flávio Emílio Monteiro, o mercado está, de fato, mais exigente para o jovem. Entretanto, acima da formação profissional e da experiência, as empresas buscam comprometimento e atitude. “O mercado procura algo além do conhecimento técnico mas gente que aja diferente, se comporte diferente e tenha atitudes que possam agregar para a empresa”, ressalta Monteiro.

♦ Há uma idade ideal para iniciar a idade profissional?
É uma decisão pessoal e da própria condição financeira. A alternativa de o jovem entrar antes mesmo de terminar o ensino médio é medida pela circunstância. Ele precisa colaborar com o orçamento doméstico: não há incompatibilidade entre estudar e organizar o tempo para trilhar a profissão.

♦ O que o jovem que deseja entrar no mercado de trabalho deve ter em mente?
Não há faixa etária ideal: ela se inicia, em termos legais, a partir de 14 anos. Os programas de incentivo à inserção, como o pequeno aprendiz, não deixaram de existir por causa do momento difícil do mercado. O que diferencia mesmo é atitude. O jovem precisa se mostrar disposto a aprender, ter atitude. E mesmo em períodos de crise, empresa nenhuma quer perder um talento que possa ser desenvolvida.

♦ Quais parâmetros medem esta “atitude”?
Um conjunto de comportamentos que ele vai apresentar. Alguém que seja adaptável, demonstre iniciativa, tenha organização, todas as coisas que são universais no mercado, independente se é um período próspero ou difícil.

♦ Como o mercado está em recessão, as seleções vão se tornar mais seletivas?
Sim, as empresas já são seletivas, e em períodos de recessão como que estamos passando elas tendem a ser ainda mais seletivas. Como a quantidade de vagas é muito pequena e de pessoal é grande, o rigor é maior.

♦ A qualificação que o mercado fala é apenas técnica ou também foca no comportamento e ética no trabalho? 
Essa complementação acaba sendo aquele diferencial de atitudes que pode garantir que o jovem ganhe a vaga. O mercado procura além do conhecimento técnico, do preparo ou um diploma de curso específico, mas gente que haja diferente, se comporte diferente e tenha atitudes que possam agregar para a empresa. Por isso as dinâmicas, entrevistas, que vão focar mais o lado comportamental.

♦ Quais conhecimentos “básicos” o jovem precisa ter?
Em princípio idiomas, principalmente o nosso. Por mais óbvio que possa parecer, há quem escreve mal, não se comunica direito e isso no mundo corporativo é imperdoável. Acrescentar um segundo idioma é desejável, mas eu não considero que quem não sabe falar inglês vá perder muitas oportunidades. Se tiver, aumenta as chances. Dominar o português é fundamental. Também é preciso uma capacidade analítica, que vem da matemática, por exemplo. Além disso, é preciso usar as ferramentas, não só como usuário: é preciso saber usar um word, excel, algum tipo de banco de dados.

♦ O que um jovem que não tem experiência profissional pode colocar no currículo?
Entre os recrutadores há uma máxima bem curiosa: todo mundo que declara avançado no currículo, na verdade é médio; quem fala médio, é elementar; e quem fala elementar, não sabe de nada. As pessoas tendem a se supervalorizar no currículo. Mas currículo pede, primeiro, os dados básicos: nome, idade, contato telefônico. Documentos pessoais só entram na fase de contratação. Além disso, é preciso colocar a última formação escolar ou acadêmica. No último tópico, a experiência, ou perfil profissional. O jovem que não tem experiência não vai inventar. O que a gente recomenda é: fez alguma atividade voluntária, participou de alguma atividade, viajou para fora do país, ganhou um concurso de poesia? Coloque no currículo. Pode não ter nada relacionado com a vaga pela qual você concorre, mas mostra um traço do seu perfil: uma pessoa desprendida, com iniciativa, que sabe trabalhar em equipe. O significado da palavra “curriculum” é curso de vida, então pegue o que há de melhor, o que for de verdade, e coloque. Os recrutadores têm vários artifícios para descobrir mentiras, eles vão olhar rede social...

♦ Por falar em internet, ela deve ser inserida no currículo?
Não agrega. Colocando ou não alguém vai rastrear, mas caso o candidato avance, não na primeira fase.

♦ Os jovens costumam ter muita presença em redes sociais. Para quem está começando ou já está no mercado de trabalho, é preciso ter filtro?
Não há como negar que o mundo corporativo é conservador, esta é uma característica de grande parte das empresas. Temos liberdade no nosso país, mas nem todo mundo consegue utilizar a rede social de forma responsável. Então, é preciso pelo menos ter o cuidado de colocar filtros corretos para que fotos, conteúdos e opiniões fiquem restritos à amizade e intimidade do candidato. Quando você deixa muito aberto, isso pode causar um mau julgamento sobre a pessoa. Não chega a ser uma questão de segregações, mas você faz projeções pelo estilo de vida que a pessoa demonstra ter. E as empresas não estão selecionando para arriscar, mas para acertar, até porque isto custa tempo e dinheiro. Aparecendo um traço comportamental fora do que a empresa quer, está fora.

♦ Já que se falou em conservadorismo, como é vista hoje a tatuagem, o piercing...?
Cada vez mais (o mercado) vem aceitando. Conservador, hoje, é mais relacionado ao comportamento, não aparência, até porque o próprio Ministério Público do Trabalho se posiciona fortemente contra qualquer tipo de discriminação. Tatuagem, piercing, cor de cabelo, alargador dependem muito da característica da empresa. Na área de criação de uma empresa de propaganda você pode encontrar tudo isso que citou, o mesmo em um call center. E tatuagem, o que a gente recomenda? Ter cuidado com o local. Tem que ser um local em que você administra a coisa: mostra quando deve e esconde quando não deve. Tamanho, extensão do desenho também devem ser observados, bem como o tipo de desenho.

♦ Durante a seleção, há alguma dica para o jovem minimizar o nervosismo?
Entrevista, no final das contas, é treino. Você começa a ficar mais solto ao longo de várias. Uma sugestão é que o jovem exercite o diálogo: alguns têm o hábito de se isolar. Com o smartphone, alguns dialogam pouco com a família, com os amigos, na escola. Então, esta pessoa frente a frente com um selecionador vai ficar nervosa. E não tente também bancar o ator nesta hora. Há alguns sites que dão a recomendação do que dizer, citar que “ser perfeccionista é o meu defeito”. Isso não vale. Gostar das coisas certas não é um defeito. Script não funciona. Os recrutadores estão cada vez mais criativos nas perguntas.

♦ Com a lei nacional de aprendizado, o jovem está cada vez mais cedo disponível no mercado. A empresa precisa ter uma atenção especial com ele?
Quando alguém é admitido como jovem aprendiz, estagiário ou trainee, a empresa raciocina que a pessoa está em processo de desenvolvimento. Então, nada mais normal que ela faça perguntas, e a empresa já está aberta a dar este apoio. É importante que ele (o estudante) não se retraia nesta hora. Se eu faço perguntas é porque eu tenho interesse, iniciativa, e isso é extremamente bem visto.

♦ Qual o benefício para a empresa em buscar o jovem profissional?
Primeiro é que ela atende a uma determinação legal, que estabelece que a empresa tenha um percentual de jovens aprendizes. Segundo, ela consegue jovens talentos que podem ser moldados pela cultura e característica da empresa. E, do ponto de vista financeiro, trazer um jovem aprendiz ou estagiário tem custo bem mais baixo.

♦ Não há o risco de a empresa substituir, em tempos de recessão econômica, o profissional pelo estagiário?
Cada vez mais as empresas têm procurado se adequar à lei do estágio e do aprendiz, mas claro que distorções você vai encontrar ainda. O que acontece é que tanto o jovem aprendiz quanto o estagiário tem carga horária diferenciada, e não se coloca para eles cargos de tomada de decisão e risco. É mais uma função de aprendizado, apoio, auxílio do que propriamente quem vai responsabilizar por uma tarefa. Mas cabe também ao jovem perceber, informar que está sendo submetido a jornadas exaustivas ou pressão psicológica, até porque todos os contratos são regidos por instrumentos legais. É importante ele ler e saber se o que executa na empresa está de acordo com o que executa no trabalho.



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Por: Nadjara Martins

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